quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Presidente Lula e primeira-dama Janja trabalham para fazer a ministra Anielle Franco candidata a vice de Eduardo Paes no Rio de Janeiro


O presidente Lula gostaria de ver a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, como vice de Eduardo Paes (PSD) na disputa pela Prefeitura do Rio em 2024. Segundo aliados do presidente de longa data em relato a Malu Gaspar, de O GLOBO, Lula tratou do assunto nos bastidores da conferência eleitoral do PT em Brasília no dia 8 de dezembro.

O PT reivindica a vaga, enquanto o prefeito carioca resiste a escolher um nome fora do seu grupo político. A sua declarada preferência é pelo deputado federal Pedro Paulo, seu fiel escudeiro.

Quando questionado sobre o assunto, Paes costuma dizer que está muito cedo para essa discussão, mas o fato de que seu principal opositor deve ser o deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) tem pesado nas articulações e deve empurrar sua chapa para a direita – e não o contrário.

De acordo com Malu Gaspar, uma outra fonte do PT, mais próxima da conjuntura do Rio, a principal incentivadora da “solução Anielle” é a primeira-dama Janja da Silva, que exerce forte influência sobre o presidente – como ele próprio admitiu no último dia 19 durante sua live semanal.

A ministra é irmã de Marielle Franco, vereadora do PSOL executada em 2018 junto de seu motorista, Anderson Gomes. A elucidação do assassinato foi anunciada no início de 2023 como uma prioridade do Governo Lula e do Ministério da Justiça sob o comando de Flávio Dino.

Em entrevista à Revista ELA, do GLOBO, no início de novembro, Janja admitiu que Anielle é uma das integrantes do governo com quem mantém maior proximidade.

Mais recentemente, em um café com jornalistas em Brasília, a ministra definiu a primeira-dama como uma “parceira de jornada” e relatou ter entregue a ela uma relação de ministras negras a serem cotadas para a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF) – o escolhido acabou sendo o colega de Esplanada Flávio Dino.

Procurada, a ministra da Igualdade Racial, que está sem partido, confirmou à equipe do blog que deve se filiar ao PT no início de 2024. Mas desconversou ao responder sobre a possibilidade de ser vice de Paes e o apoio de Lula e Janja.

 “Meu desejo de filiação ao PT sempre existiu e esteve no meu horizonte nos últimos anos”, disse ela. “Sobre candidatura, estou ministra do presidente Lula e do Brasil com muita honra. Minha atuação teve um primeiro ano de muitas entregas, e estou orgulhosa”.

Lideranças do PT do Rio se disseram surpresas ao serem questionadas pela equipe do blog sobre o desejo de Lula. Isso porque a regional do partido já trabalha com outros nomes para a vice de Paes.

Estão cotados três secretários do prefeito: Diego Zeidan (Desenvolvimento Econômico Solidário), filho do deputado federal e vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá com a deputada estadual Zeidan (PT); Tainá de Paula (Meio Ambiente e Clima) e Adilson Pires (Assistência Social), que já foi vice de Paes entre 2013 e 2017, durante o segundo mandato do prefeito.

O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e atual secretário de Assuntos Federativos do governo Lula, André Ceciliano, também é cotado pela cúpula do PT fluminense.

O embarque do PT na administração municipal fez parte de um rearranjo na composição do secretariado após a vitória de Lula contra Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

Uma indicação pessoal de Lula obviamente teria peso, mas poderia gerar conflitos uma vez que Anielle, que ainda nem se filiou, “furaria” a fila de pré-candidatos.

Seja qual for o nome indicado pelo PT, é preciso vencer outra etapa: o convencimento de Paes, que trabalha para concorrer ao governo do Rio pela terceira vez – ele já disputou o cargo em 2006 e em 2018, quando foi derrotado no segundo turno por Wilson Witzel (PSC).

O prefeito avaliou recentemente em conversas com aliados que o cenário é favorável para sua candidatura porque o atual governador, Cláudio Castro (PL), não pode disputar um terceiro mandato.

Caso seja reeleito para um inédito quarto mandato em 2024, a empreitada exigiria que Paes renunciasse à prefeitura do Rio em março de 2026 e seu vice assumisse o comando da cidade por quase três anos.

Daí a insistência do político nos bastidores em escolher um afilhado político, como os deputados federais Pedro Paulo (PSD) ou Daniel Soranz (PSD), no lugar de um petista.

A aliados, Paes tem atribuído sua resistência à escolha de um quadro do PT para a vice-prefeitura não ao seu projeto político, mas à pré-candidatura bolsonarista de Alexandre Ramagem, que conta com o apoio expresso de Jair Bolsonaro. No segundo turno das eleições de 2022, o então presidente venceu Lula na capital fluminense por 52,6% a 47,3%.

O prefeito costuma responder a quem pergunta sobre a possibilidade de entregar a vaga de vice ao PT que é preciso “escolher se o objetivo é ganhar a eleição ou marcar posição”, em referência ao eleitorado que se mostrou bolsonarista no último ciclo eleitoral. Na ocasião, Paes apoiou enfaticamente a candidatura de Lula, e Bolsonaro chegou a chamá-lo de “vagabundo” em um comício no Rio.

Entre os acenos para atrair o eleitorado identificado com o bolsonarismo neste terceiro mandato, Paes também deu início a grandes obras de infraestrutura na Zona Oeste da cidade, onde Bolsonaro teve a maior votação da capital em 2022.

A corrida para compor a chapa do atual prefeito se deve ao fato de o atual vice, Nilton Caldeira, que é do PL, já ter embarcado na canoa de Ramagem.

Caldeira pertence à chamada “ala raiz” do partido e era ligado ao fundador da sigla, Álvaro Valle, morto em 2000. Nas eleições de 2020, quando ele foi eleito vice de Paes, Jair Bolsonaro ainda não havia se filiado à legenda.

Após o embarque do então presidente, prefeito e vice passaram a caminhar em lados opostos. A aliança, claro, não será reeditada em 2024. Se por um lado o divórcio abriu caminho para a reivindicação do PT, é justamente o fantasma do bolsonarismo que pode sepultar as expectativas do partido.






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