O presidente Lula gostaria de ver a ministra da Igualdade
Racial, Anielle Franco, como vice de Eduardo Paes (PSD) na disputa pela
Prefeitura do Rio em 2024. Segundo aliados do presidente de longa data em
relato a Malu Gaspar, de O GLOBO, Lula tratou do assunto nos bastidores da
conferência eleitoral do PT em Brasília no dia 8 de dezembro.
O PT reivindica a vaga, enquanto o prefeito carioca resiste
a escolher um nome fora do seu grupo político. A sua declarada preferência é
pelo deputado federal Pedro Paulo, seu fiel escudeiro.
Quando questionado sobre o assunto, Paes costuma dizer que
está muito cedo para essa discussão, mas o fato de que seu principal opositor
deve ser o deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) tem pesado nas
articulações e deve empurrar sua chapa para a direita – e não o contrário.
De acordo com Malu Gaspar, uma outra fonte do PT, mais
próxima da conjuntura do Rio, a principal incentivadora da “solução Anielle” é
a primeira-dama Janja da Silva, que exerce forte influência sobre o presidente
– como ele próprio admitiu no último dia 19 durante sua live semanal.
A ministra é irmã de Marielle Franco, vereadora do PSOL
executada em 2018 junto de seu motorista, Anderson Gomes. A elucidação do
assassinato foi anunciada no início de 2023 como uma prioridade do Governo Lula
e do Ministério da Justiça sob o comando de Flávio Dino.
Em entrevista à Revista ELA, do GLOBO, no início de
novembro, Janja admitiu que Anielle é uma das integrantes do governo com quem
mantém maior proximidade.
Mais recentemente, em um café com jornalistas em Brasília, a
ministra definiu a primeira-dama como uma “parceira de jornada” e relatou ter
entregue a ela uma relação de ministras negras a serem cotadas para a vaga de
Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF) – o escolhido acabou sendo o
colega de Esplanada Flávio Dino.
Procurada, a ministra da Igualdade Racial, que está sem
partido, confirmou à equipe do blog que deve se filiar ao PT no início de 2024.
Mas desconversou ao responder sobre a possibilidade de ser vice de Paes e o
apoio de Lula e Janja.
“Meu desejo de filiação ao PT sempre existiu e esteve
no meu horizonte nos últimos anos”, disse ela. “Sobre candidatura, estou
ministra do presidente Lula e do Brasil com muita honra. Minha atuação teve um
primeiro ano de muitas entregas, e estou orgulhosa”.
Lideranças do PT do Rio se disseram surpresas ao serem
questionadas pela equipe do blog sobre o desejo de Lula. Isso porque a regional
do partido já trabalha com outros nomes para a vice de Paes.
Estão cotados três secretários do prefeito: Diego Zeidan
(Desenvolvimento Econômico Solidário), filho do deputado federal e
vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá com a deputada estadual
Zeidan (PT); Tainá de Paula (Meio Ambiente e Clima) e Adilson Pires
(Assistência Social), que já foi vice de Paes entre 2013 e 2017, durante o
segundo mandato do prefeito.
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e
atual secretário de Assuntos Federativos do governo Lula, André Ceciliano, também
é cotado pela cúpula do PT fluminense.
O embarque do PT na administração municipal fez parte de um
rearranjo na composição do secretariado após a vitória de Lula contra Jair
Bolsonaro nas eleições de 2022.
Uma indicação pessoal de Lula obviamente teria peso, mas
poderia gerar conflitos uma vez que Anielle, que ainda nem se filiou, “furaria”
a fila de pré-candidatos.
Seja qual for o nome indicado pelo PT, é preciso vencer
outra etapa: o convencimento de Paes, que trabalha para concorrer ao governo do
Rio pela terceira vez – ele já disputou o cargo em 2006 e em 2018, quando foi
derrotado no segundo turno por Wilson Witzel (PSC).
O prefeito avaliou recentemente em conversas com aliados que
o cenário é favorável para sua candidatura porque o atual governador, Cláudio
Castro (PL), não pode disputar um terceiro mandato.
Caso seja reeleito para um inédito quarto mandato em 2024, a
empreitada exigiria que Paes renunciasse à prefeitura do Rio em março de 2026 e
seu vice assumisse o comando da cidade por quase três anos.
Daí a insistência do político nos bastidores em escolher um
afilhado político, como os deputados federais Pedro Paulo (PSD) ou Daniel
Soranz (PSD), no lugar de um petista.
A aliados, Paes tem atribuído sua resistência à escolha de
um quadro do PT para a vice-prefeitura não ao seu projeto político, mas à
pré-candidatura bolsonarista de Alexandre Ramagem, que conta com o apoio
expresso de Jair Bolsonaro. No segundo turno das eleições de 2022, o então presidente
venceu Lula na capital fluminense por 52,6% a 47,3%.
O prefeito costuma responder a quem pergunta sobre a
possibilidade de entregar a vaga de vice ao PT que é preciso “escolher se o
objetivo é ganhar a eleição ou marcar posição”, em referência ao eleitorado que
se mostrou bolsonarista no último ciclo eleitoral. Na ocasião, Paes apoiou
enfaticamente a candidatura de Lula, e Bolsonaro chegou a chamá-lo de
“vagabundo” em um comício no Rio.
Entre os acenos para atrair o eleitorado identificado com o
bolsonarismo neste terceiro mandato, Paes também deu início a grandes obras de
infraestrutura na Zona Oeste da cidade, onde Bolsonaro teve a maior votação da
capital em 2022.
A corrida para compor a chapa do atual prefeito se deve ao
fato de o atual vice, Nilton Caldeira, que é do PL, já ter embarcado na canoa
de Ramagem.
Caldeira pertence à chamada “ala raiz” do partido e era
ligado ao fundador da sigla, Álvaro Valle, morto em 2000. Nas eleições de 2020,
quando ele foi eleito vice de Paes, Jair Bolsonaro ainda não havia se filiado à
legenda.
Após o embarque do então presidente, prefeito e vice
passaram a caminhar em lados opostos. A aliança, claro, não será reeditada em
2024. Se por um lado o divórcio abriu caminho para a reivindicação do PT, é
justamente o fantasma do bolsonarismo que pode sepultar as expectativas do
partido.
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