Para 47%, Bolsonaro teve influência em atos golpistas, aponta pesquisa
Oitenta e nove por cento dos brasileiros não aprovam as
invasões aos prédios dos Três Poderes ocorridas em 8 de janeiro do ano passado
na capital federal. Os atos, que resultaram em depredação do patrimônio público
e prejuízo ao Erário, são aprovados, no entanto, por 6%. Quatro por cento
não souberam ou não quiseram responder.
Os dados, tornados públicos neste domingo (7/1/24), são de
pesquisa de opinião realizada pela empresa Quaest, entre os dias 14 e 18 de
dezembro de 2023, por meio de 2.012 entrevistas presenciais com questionários
estruturados junto a brasileiros com 16 anos ou mais, em 120 municípios. A
margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, e o nível de confiança é de 95%. O
levantamento foi financiado pela plataforma Genial Investimentos, que opera no
mercado financeiro.
De acordo com a apuração, a atitude de terrorismo em
Brasília é rejeitada majoritariamente em todas as grandes regiões do país, por
pessoas de diferentes níveis de escolaridade e renda familiar, tanto por eleitores
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto do ex-presidente
Jair Bolsonaro.
Os resultados da pesquisa revelam a reprovação por 94% dos
que declararam voto em Lula no segundo turno das eleições em 2022 e por 85% de
quem declarou voto em Bolsonaro; por 87% dos entrevistados no Sul (menor
percentual) e 91% no Nordeste (maior percentual). A rejeição é de 88% dos
entrevistados com até o ensino fundamental, 90% daqueles com ensino médio
(incompleto ou completo) e 91% dos que têm ensino superior (incompleto ou
completo). Também desaprovam os atos 89% de quem tem renda familiar até cinco
salários mínimos e 91% dos que vivem com renda de mais de cinco salários
mínimos.
Influência de Bolsonaro
De acordo com a pesquisa, as opiniões se dividem na pergunta
“Bolsonaro teve algum tipo de influência no 8 de janeiro?” Avaliam que
sim 47% dos entrevistados e 43% acreditam que não. Dez por cento não
souberam ou não quiseram responder.
Todos os dados apresentados acima são próximos dos
percentuais encontrados para a versão da pesquisa da Quaest realizada em
fevereiro do ano passado. “A rejeição aos atos do 8/1 mostra a resistência da
democracia brasileira. Diante de tanta polarização, é de se celebrar que o país
não tenha caído na armadilha da politização da violência institucional”, aponta
em nota à imprensa Felipe Nunes, diretor da empresa.
Na opinião dele, diferentemente do que ocorreu nos Estados
Unidos – que sofreu com a invasão ao prédio do Congresso (Capitólio) em 6 de
janeiro de 2001 – no Brasil as opiniões a respeito dos atos de vandalismo
sofrem pouca influência das escolhas das legendas políticas. “É imperativo
que esse debate não seja contaminado por cores partidárias, porque trata-se de
um problema do Estado brasileiro. É a defesa das regras, da Constituição e da
própria democracia que está em jogo neste caso.”
Livro recente
Felipe Nunes é cientista político e também trabalha como
professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No final do ano, ele
lançou o livro Biografia do Abismo – Como a Polarização Divide
Famílias, Desafia Empresas e Compromete o Futuro do Brasil (editora
HarperCollins), escrito em parceria com o jornalista Thomas Traumann.
A publicação descreve que as posições políticas passaram a
ser parte da identidade de cada brasileiro, e na última eleição presidencial o
país “viveu a consolidação de um processo de polarização extrema” – quando
se “calcificou” o mecanismo de escolha do voto, “em que os interesses perderam
força para as paixões.”
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