Pela primeira vez, mapas climáticos produzidos com dados
dos últimos 30 anos apontam que o Brasil tem áreas com clima árido, similar ao
de desertos, informa o colunista Carlos
Madeira, do portal UOL. Isso foi causado pelas mudanças climáticas que
aumentaram a temperatura da terra, associado à degradação gerada pelo uso
humano.
Uma nota técnica produzida por cientistas do Cemaden
(Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgãos do governo federal, alerta
que o índice de aridez cai a patamares inéditos, aumentando áreas em
desertificação.
O documento já foi entregue ao MMA (Ministério do Meio
Ambiente e Mudança do Clima) e demais órgãos que devem compor o plano de ação
de mitigação ao problema.
“Nosso levantamento utilizou dados até 2020, e no novo
mapa aparecem essas áreas áridas, mais precisamente na região norte da Bahia. A
gente nunca tinha visto isso antes, essa é a primeira vez”, diz Javier
Tomasella, pesquisador do Inpe e coordenador do estudo.
O cálculo de aridez classificado pela UNCCD (Convenção
das Nações Unidas para o Combate à Desertificação) leva em conta a média de
chuva em um intervalo de 30 anos e a evaporação potencial. Quanto maior a
aridez de um local, menor é a disponibilidade de água.
Entre os fatores apontados estão as mudanças climáticas,
que aquecem o planeta e levam a uma evaporação mais rápida da água. Tudo isso,
claro, associado a questões humanas de degradação do solo, com desmatamento e
queimadas, por exemplo.
A nota aponta que o processo de aridez do clima avança
por todo o país, com exceção da região Sul. Além Javier, o artigo ainda é
assinado por Ana Paula Cunha e José Marengo, do Cemaden.
Hoje, oficialmente, o país tem 1.427 municípios
classificados como semiárido em uma área de e ocupa parte dos nove estados do
Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo.
Além do Cemaden e Inpe, o pesquisador Humberto Barbosa,
coordenador do Lapis (Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite) da
Ufal (Universidade Federal de Alagoas), fez uma outra pesquisa e publicou
artigo que também aponta para o mesmo problema.
“Temos agora dentro do conceito de terras secas da UNCCD,
as três tipologias: subúmidas secas, semiárido e a novidade, o árido. Isso cria
nova ordem do semiárido brasileiro”, diz Humberto.
Usando dados de satélite disponíveis dos últimos 18 anos,
ele percebeu uma queda no número de nuvens no céu da região ao longo dos anos.
O norte da Bahia também é apontado no mapa como a região mais afetada pela
aridez, que também tem processos avançados de desertificação e degradação em
menor escala em Minas, Pernambuco e Paraíba.
“Redução de nuvem na linguagem meteorológica a gente quer
dizer que está se reduzindo a capacidade de chuva de um local”, continua
Humberto.
Autor do livro “Um século de secas” ao lado de Catarina
Buriti, o pesquisador explica que o Nordeste enfrentou oito eventos prolongados
de seca desde 1845, mas nenhum deles durou seis anos, como a estiagem
prolongada entre 2012 e 2017. “Foi a primeira vez que tivemos, antes eram
períodos de dois, três anos.”
A informação preocupa o MMA, que este ano criou o Departamento
de Combate à Desertificação.
Segundo Alexandre Pires, que coordena esse departamento,
o MMA vai usar os dados de Inpe e Cemaden para atualizar o mapa das áreas
suscetíveis à desertificação.
A última versão desse mapa é de 2015, e o novo documento
vai apontar agora essas áreas e municípios classificados como de clima árido.
“O MMA está se articulando com os governos dos estados no
sentido de retomada da política, de repactuação de ações que atendam a
necessidade de implementação de práticas e tecnologias concretas de combate à
desertificação”, diz Alexandre.
Ele explica outras pastas devem ser envolvidas no
processo para que possam apoiar os serviços de assistência técnica e rural a
agricultores da região,
Também há um diálogo com o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação para o lançamento de um edital de pesquisa sobre a agenda
da desertificação focado sobretudo em grupos de mulheres agricultoras.
Nas últimas terça e quarta-feira, cientistas e
autoridades se reuniram em um seminário sobre em João Pessoa. O debate do tema
foi promovido pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), que está coordenando uma
rede com quatro outros tribunais (de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e
Sergipe) para ajudar gestores com informações e cobras planos de mitigação de
impactos da desertificação.
“Ou se cuida disso imediatamente, ou a desertificação
obrigará a remoção das populações do semiárido”, disse Nominando Diniz,
presidente do TCE-PB.
A preocupação atinge todos os estados. A engenheira
agrônoma e gerente de Estudos e Pesquisas em Meio Ambiente da Funceme (Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), Margareth Sílvia Benício,
palestrou no evento e diz que, apesar de não ter ainda áreas com clima árido, o
Ceará é o único que tem 100% de seu território suscetível à desertificação,
segundo levantamento de 2016.
Ela explica que, de 2016 para cá, novos mapeamentos
apontam que as mudanças climáticas já estão interferindo e acelerando nesse
processo. No estado, existem três núcleos de desertificação já percebidos, que
são os que mais preocupam.
“As chuvas diminuíram e são muito espaçadas, as estão
temperaturas elevadas, sem contar a pressão antrópica. A gente percebe isso que
está alimentando a vulnerabilidade e nos assusta. É preciso que os governos sejam
alertados e façam medidas de mitigação”, concluiu Margareth.
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