Cortejado por Nunes e fazendo acenos a Salles, o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda não definiu seu palanque eleitoral para 2024
São Paulo – O receio do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) de que o cerco da Polícia Federal (PF) o leve para a prisão pode
impactar o cenário da disputa eleitoral à Prefeitura de São
Paulo em 2024.
Aliados entendem que apenas uma candidatura defendida por Bolsonaro será capaz de fazer frente ao deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP), nome apoiado pelo presidente Lula. Para isso, Bolsonaro terá de escolher entre uma campanha mais ideológica ou mais conciliadora.
Embora tenha acenado à candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), que foi seu ministro do Meio Ambiente, Bolsonaro também tem sido cortejado pelo prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB), que é apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
A escolha do vice da chapa de Nunes, inclusive, passa pela
anuência de Tarcísio e Valdemar, embora o presidente do PL tenha declarado
publicamente que a decisão final sobre a escolha caberá ao próprio Bolsonaro.
Segundo aliados, tanto Valdemar quanto Tarcísio tentam
ganhar tempo para convencer Bolsonaro a concentrar esforços na candidatura de
Nunes. Isso inclui a demora do presidente do PL em conceder a carta de
desfiliação de Salles, que já mantém conversas para concorrer à Prefeitura pelo PRD,
partindo oriundo da fusão do PTB com o Patriota.
Bolsonaro de “mãos atadas”
Desde que retornou dos Estados Unidos, para onde viajou após a derrota nas eleições de 2022,
Bolsonaro tem sido visto por pessoas próximas como mais comedido em suas
decisões. Em parte, afirmam aliados, porque tem casa, salário e advogados pagos pelo PL de Valdemar, de
modo que o ex-presidente tem se visto de “mãos atadas” em algumas situações
para não desagradar o cacique partidário.
Durante evento do PL na tarde dessa terça-feira (28/11/2023),
Bolsonaro disse que quem manda no partido é o presidente nacional e que, às
vezes, terá de “engolir o candidato do Valdemar”. Para aliados, o ex-presidente
teme perder o auxílio do PL – o que inclui a defesa nas investigações das quais
é alvo – caso entre em embate direto com o líder da sigla.
O mesmo se aplica a Tarcísio, a quem o ex-presidente tem
evitado peitar apesar do descontentamento frequente. Segundo pessoas
próximas, Bolsonaro entende que seria um prejuízo político perder um aliado que
comanda o estado mais rico e populoso do país.
Conforme divulgado pelo Metrópoles, Tarcísio
disse a auxiliares que não vê chance de uma candidatura bolsonarista vencer na cidade e
alega que a melhor chance contra Boulos é apostar na reeleição de Nunes, que
apresenta um perfil mais moderado.
Armas bolsonaristas
Descontentes há meses com Tarcísio, deputados bolsonaristas
da Assembleia Legislativa (Alesp) articulam uma bancada paralela para discutir, de forma independente, projetos
enviados pelo governador e também a possibilidade de apoiar outra
candidatura que não a de Nunes no próximo ano.
O grupo também tem insuflado o nome de Sonaira
Fernandes, secretária da Mulher do governo Tarcísio, para ser a vice de Nunes na chapa à Prefeitura, ante o
desejo do governador de indicar para a vaga o delegado Osvaldo Nico, número
dois da Secretaria da Segurança Pública.
Próxima do clã Bolsonaro, Sonaira é filiada ao Republicanos
e apresenta uma agenda focada nas pautas de costumes, algo que poderia provocar
constrangimento a Tarcísio caso o governador queira vetar a indicação.
No entanto, a reação dos bolsonaristas teria levado o
próprio Bolsonaro a ocupar uma posição então inédita, de mediador, e pedir que
evitassem grandes conflitos com Tarcísio. Para Salles, o recado ainda ganhou um
acréscimo: o de que mantivesse a calma, outra palavra pouco frequente no
vocabulário do ex-presidente.
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