A Elysian Petro, empresa que arrematou o maior número de
áreas exploratórias no leilão de petróleo realizado pelo governo nesta
quarta-feira ficou com 122 dos 192 blocos concedidos. A empresa é uma
estreante no setor e foi criada em agosto por um empresário de tecnologia
mineiro e ainda não conta com nenhum empregado.
O número de blocos arrematado equivale à metade dos blocos
exploratórios sob contrato hoje no Brasil e a mais de três vezes os 37 blocos
exploratórios concedidos à Petrobras — nesta quarta, a estatal arrematou mais
29.
O elevado número de áreas arrematadas por uma estreante surpreendeu
participantes do leilão. A Elysian se comprometeu a pagar R$ 12 milhões em
bônus de assinatura e espera investir R$ 400 milhões em cinco anos.
A empresa foi aberta em agosto pelo empresário Ernani
Machado, que controla uma empresa de tecnologia com sede em Belo Horizonte. Tem
capital social de R$ 50 mil, segundo o empresário, valor que será revisto após
a vitória no leilão com novos aportes, e por enquanto nenhum empregado.
Em entrevista após o certame, ele confirmou que abriu a
empresa apenas para participar do leilão e disse que fará ingresso de capital
próprio agora que arrematou os blocos. “O objetivo é desenvolver tecnologias
para extrair petróleo com o menor dano possível à natureza”, disse.
“As tecnologias usadas hoje para extrair petróleo são as
mesmas de 80, 100 anos atrás”, continuou. Sua outra empresa é chamada JMM Tech
e oferece soluções tecnológicas para setores como defesa, segurança pública,
agronegócio e aeroespacial, segundo o Sistema Mineiro de Inovação.
Machado disse que contratou sete consultores especializados
para planejar a participação no leilão e que agora planeja contratar 90 pessoas
para iniciar as campanhas exploratórias nas 122 áreas arrematadas, que estão
localizadas em Sergipe, no Rio Grande do Norte e no Espírito Santo.
O elevado número de blocos, afirmou, é necessário para que a
empresa possa identificar os melhores prospectos para seu objetivo de
desenvolver tecnologia. “O momento era agora. E, se o momento é agora, tem que
aproveitar agora.”
Machado estipulou ofertas de R$ 51 mil por cada área em que
tinha interesse. “Poderia falar a vocês que fiz um supercálculo e cheguei a 51,
mas seria a maior mentira. Peguei o [bônus] mínimo de R$ 50 mil e coloquei mais
mil”, contou.
Em meados dos anos 2000, uma outra estreante no país, a
argentina Oil M&S levou a ANP a tentar limitar o número de áreas
arrematadas por empresas em leilões, em movimento que levou à única suspensão
de rodada de licitações da ANP desde a abertura do setor.
Em 2005, a Oil M&S arrematou sozinha 43 blocos
exploratórios, 22 deles na bacia do São Francisco e outros 21 na bacia do
Solimões. Eram blocos maiores do que os atuais e em áreas de elevado risco
exploratório, o que gerou desconfianças no mercado.
Em 2006, a ANP decidiu limitar o número de áreas e a medida
foi usada, pela então deputada federal Clair da Flora Martins (PT/PR), como
argumento para derrubar o leilão no meio de seu primeiro dia —quando apenas 58
dos 284 blocos previstos haviam sido ofertados.
A empresa acabou repassando as concessões anos depois e
deixando o Brasil. Os novos donos também não conseguiram desenvolver os
projetos.
A atuação da novata no certame deste ano foi recebida com
preocupação pelo Instituto Arayara, que atua na defesa de fontes de energia com
menor impacto socioambiental e climático. A diretora executiva, Nicole
Oliveira, chamou a atenção para os riscos de uma empresa desconhecida e de
pequeno porte assumir tantas áreas em sua estreia num setor tão complexo.
“A Elysian adquiriu o maior número de blocos, mas não há
como garantir se terá uma exploração responsável, como dizem, uma vez que tem
um capital social baixo, é uma empresa recém-criada e ainda sem funcionários no
Brasil. Qual vai ser a capacidade de ela reparar danos se houver um acidente
ambiental?”
Com informações da Folha de S. Paulo.
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