segunda-feira, 27 de abril de 2015

"Petrobras sobe mais de 5% e ganha R$ 4,4 bi em valor após balanço; dólar cai abaixo dos R$ 3!"

(Companhia registrou prejuízo de R$ 21,5 bi e não vai pagar dividendos.)





            Foi volátil para as ações da Petrobras mas, no saldo do pregão, o mercado financeiro aprovou o balanço financeiro divulgado pela estatal na noite passada — apesar de um prejuízo de R$ 21,58 bilhões, provocado por corrupção e desvalorização de ativos. Embora as ações tenham iniciado o dia caindo até 10%, elas mudaram de trajetória após a teleconferência da direção da empresa com analistas. Os papéis ordinários (ON, com direito a voto) subiram 5,63%, a R$ 14,06. O resultado foi um crescimento de R$ 4,46 bilhões na capitalização de mercado da empresa hoje, para R$ 177 bilhões.
            Enquanto as ON dispararam, as preferenciais (PN, sem voto) fecharam em queda de 1,52%, a R$ 12,92, com a confirmação de a companhia não pagará dividendo a nenhum acionista. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts da Petrobras (ADRs, recibos de ação da empresa negociados lá fora) subiram 5,32%, a US$ 9,40. Na Bolsa de Frankfurt, o recibo avançou 4,19%, aos € 4,20.
             Com o bom desempenho da Petrobras e da alta forte registrada nos papéis dos setores de mineração, siderurgia e bancário, o índice de referência Ibovespa fechou em alta de 1,95%, aos 55.684 pontos. O dólar caiu quase 1% e fechou abaixo de R$ 3 pela primeira vez desde o início de março.

              Segundo analistas, a disparada das ações ON frente às PN reflete a decisão da empresa de não pagar nenhum dividendo aos acionistas referentes ao exercício de 2014. Dividendos são uma parcela dos lucros da empresa distribuídas aos detentores de ação da empresa. Desde 2013 — quando a estatal alterou sua política de pagamento de proventos — os detentores dos papéis PN vinham recebendo parcela maior dos dividendos da Petrobras. Além disso, como prevê o estatuto da petrolífera, eles têm prioridade nesse pagamento. Por causa disso, a cotação da PN passou os últimos dois anos acima da ON. Nas últimas semanas, a ON passou a ficar mais cara com a perspectiva de que não haveria mesmo dividendos. Com a confirmação disso ontem, os investidores se desfizeram de suas PN e correram para a ON — pois ela tem a vantagem do poder de voto — ampliando a distância entre os papéis.
                Foi uma surpresa o fato de a empresa não pagar dividendo nenhum, principalmente na preferencial. A ação preferencial só existe por causa do dividendo, porque é a vantagem que ela tem é essa. Obviamente que a empresa vai ter que dar um cronograma para pagar, em algum momento, esse dividendo ao preferencialista — afirmou Daniela da Costa-Bulthuis, gestora na Robeco, sediada em Roterdã, Holanda, e porta-voz de um grupo de 14 fundos internacionais com participação na petrolífera.
                Segundo Karina Freitas, analista da Concórdia, existia a expectativa de que pelo menos a PN recebesse algum dividendo. Isso por que, observou Karina, parcela do mercado financeiro esperava que as baixas contábeis seriam menores que os R$ 50,8 bilhões anunciados, o que permitiria que a estatal alcançasse algum lucro. Como lembrou em relatório divulgado hoje a analista Paula Kovarsky, do Itaú BBA, há grande divergência entre especialistas sobre se a Petrobras poderia ser obrigada a pagar dividendo mínimo aos detentores de PN mesmo em caso de prejuízo, por meio de reserva de lucros.
                A decisão de não pagar dividendo foi acertada. É difícil discutir a distribuição de proventos com a companhia apresentando uma alavancagem tão alta. Além disso, o estatuto da Petrobras não é claro sobre a existência de uma flexibilidade que permitiria à empresa pagar dividendo dentro da fórmula de reserva — afirmou Karina.
                Karina lembrou também que a ação ON foi favorecida pelo fluxo intenso de entrada de estrangeiros, que privilegiam papéis com poder de voto.
                Além da Petrobras, as ações da Vale se destacaram no pregão, registrando alta de 8,43% (ON) e 6,56% (PN). A CSN avançou 7,31%, enquanto a Gerdau subiu 4,92% e a Usiminas, 6,76%. Os papéis subiram embalados com a valorização intensa do minério de ferro nos últimos dias e a constante expectativa de que a China vai anunciar medidas de estímulos econômicos — no fim de semana, o governo do país já havia reduzido os depósitos compulsórios dos bancos. Hoje, o minério de ferro sobe 1,44%, depois de ter avançado 5,88%.
                 A BHP Biliton, uma das gigantes da mineração, anunciou ontem que adiaria alguns investimentos na parte de minério de ferro. Isso foi o primeiro movimento de um player gigante nesse sentido, o que pode ser positivo para o preço do futuro do minério — disse Hersz Ferman, da Elite Corretora.
                 A Usiminas reportou prejuízo líquido hoje de R$ 247,5 milhões no 1º trimestre, número melhor que o esperado pelos analistas.
                 Os bancos também subiram com força. O Itaú Unibanco avançou 2,71%. O Bradesco subiu 2,19%. O Banco do Brasil registrou valorização de 3,42%.
                 O dólar registrou desvalorização nesta quinta, acompanhando o mercado externo. O dólar comercial recuou 0,89%, cotado a R$ 2,979 para compra e a R$ 2,981 para venda. Foi a primeira vez que o dólar ficou abaixo dos R$ 3 desde 4 de março. O índice Dollar Spot, da Bloomberg, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de dez dividas globais, caiu 0,61%.
                 A moeda americana reagiu à expectativa de que o banco central americano, o Fed, não irá subir a taxa de juros nos Estados Unidos após dados divulgados hoje apontarem que a economia ainda está em recuperação.

                 Embora tida como passo fundamental pelas agências de classificação de risco, a divulgação dos resultados da Petrobras dividiu analistas quanto ao futuro da nota da companhia. Em relatório, os analistas João Augusto de Castro Neves, Christopher Garman e Cameron Combs, da consultoria Eurasia, disseram que o volume de perdas é “significativamente” maior do que a maioria do mercado esperava e que o resultado deve reduzir o risco de novos downgrades.
                 Mas para o analista Auro Rozembaum, do Bradesco BBI, a Petrobras provavelmente será rebaixada de novo — no fim de fevereiro, a Moody’s já havia rebaixado seus ratings para grau especulativo. Para Rozembaum, os resultados auditados não ajudam a resolver os problemas estruturais da companhia, como alavancagem financeira elevada e dificuldade de ser lucrativa com o baixo nível atual do preço do petróleo.
                  O analista cobrou medidas como corte dos investimentos e forte venda de ativos, pontos que ainda não foram detalhados a fundo pela Petrobras.



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