quinta-feira, 14 de maio de 2015




"Beira-Mar nega liderança do CV: na rua, eu era um comerciante independente!"

Fernandinho Beira-Mar é julgado em Júri Popular no Tribunal de Justiça do Rio por ordenar a morte de quatro líderes do tráfico













               Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, negou nesta quarta-feira (13/05/2015), em audiência na qual é julgado por quatro mortes ocorridas durante uma rebelião em Bangu, no Rio de Janeiro, em 2002, a autoria dos crimes. Disse também que nunca foi chefe da facção criminosa Comando Vermelho: "Na rua eu não tinha facção. Eu era um comerciante [de drogas] independente."
             O depoimento de Beira-Mar durou cerca de uma hora e foi marcado por ironias e embates entre ele e o juiz Fábio Uchôa, que chegou a advertir o réu para que respondesse às perguntas da Promotoria.
            O Beira-mar  se disse culpado por muitos crimes, mas não esses. Ele disse que só participou da negociação para o fim da rebelião a pedido dos agentes penitenciários. E afirmou ainda que só está sendo julgado hoje "por causa do meu vulgo". "Meu nome, hoje, justifica tudo. Basta colocar Fernandinho Beira-Mar que isso já vira a rainha das provas", reclamou.
             Beira-Mar veio ao Rio para ser julgado no episódio que serviu de inspiração para a cena de abertura do filme Tropa de Elite 2. O líder do Comando Vermelho é acusado de ter comandado uma guerra de facções dentro do Presídio de Segurança Máxima Bangu I, em 11 de setembro daquele ano. Preso na Galeria A do presídio, Beira-Mar, segundo a promotoria, usou as chaves para atravessar seis portões com grades até chegar ao local onde estavam os rivais.
            O Beira-mar responderá pelas mortes de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, líder da facção rival ADA (Amigos dos Amigos), e outros três presos. Segundo denúncia do Ministério Público, eles teriam sido assassinados a mando do traficante. As mortes ocorreram dentro da Galeria D do presídio, considerado de segurança máxima, onde estavam dez detentos.
             Na época, a rebelião levou pânico a diversos bairros da cidade, obrigando parte do comércio a fechar as portas. Beira-Mar agiu em conjunto com outros 22 presos e um agente penitenciário, mas o processo foi desmembrado.
              A primeira testemunha a depor foi Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso há 12 anos, que seria o fundador da ADA e que estava na cela invadida por Beira-Mar. Ele teria negociado a própria vida em troca de pontos de droga. No depoimento, Celsinho afirmou que o réu entrou na galeria desarmado. "Ele entrou com um rádio ou um telefone na mão. Fiquei com uma dívida. Eu to vivo, excelência", afirmou, negando no entanto que faltaria com a verdade em um caso no qual quatro de seus companheiros foram mortos.
               Celsinho provocou risos quando foi questionado sobre sua profissão: "Que profissão, Excelência. Eu era bandido, traficante."

              Se for condenado no julgamento desta quarta, o traficante pode adicionar mais 120 anos de prisão e ultrapassar, na soma com sentenças anteriores, a marca de 300 anos de cadeia. Ele já acumula aproximadamente 200 anos de prisão em decisões passadas, relacionadas a outros crimes.
              Em uma delas, também definida por júri popular em 2013, ele foi condenado a 80 anos sob acusação de planejar e ordenar a morte de dois homens na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio, no mesmo ano de 2002. Nesta época, o traficante já estava preso.
             O codinome Beira-Mar tem origem nesta favela da Baixada Fluminense, onde ele despontou como chefe do tráfico no início da década de 1990. Nos anos seguintes, passou a ser reconhecido como um dos principais articuladores da facção Comando Vermelho.
             Ganhou notoriedade por organizar sua própria rede de distribuição de armas e drogas a partir de conexões com traficantes da América Latina. Está preso desde abril de 2001, quando foi capturado na selva colombiana por tropas do exército local.
              Beira-Mar cumpre pena na penitenciária federal de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia.

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