A mudança nas regras de concessão do seguro-desemprego
e a decisão das empresas de ajustar seu quadro de pessoal pelo congelamento de
novas contratações criaram uma situação aparentemente contraditória. O Brasil
ganhou 2,1 milhões de novos desempregados nos últimos 12 meses, mas o número de
beneficiários do seguro-desemprego caiu 13% no quadrimestre encerrado em
agosto. A queda permitiu, inclusive, uma economia real nos gastos com essa
despesa, como previsto nas medidas do ajuste fiscal.
A mudança recente nas regras de
acesso ao seguro, que elevou o período mínimo de serviço dos novos requerentes
de seis para 12 meses, explica em parte o cenário. Outra explicação está na
própria dinâmica da recessão. Nos últimos 12 meses, as empresas fecharam 1,3
milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada, mas essa queda
ocorreu principalmente pela redução das novas admissões, e não pelo crescimento
dos desligamentos. Nos 12 meses encerrados em setembro, as empresas desligaram
900 mil pessoas a menos do que nos 12 meses anteriores, mas deixaram de fazer
2,7 milhões de contratações.
Eduardo Zylberstajn, pesquisador
da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), diz que é típico dos
momentos de crise que o ajuste do mercado de trabalho se faça pela não
reposição de vagas. Gabriel Ulyssea, da PUC-RJ, acrescenta que a desaceleração
da atividade diminui a taxa de rotatividade, o que alivia a pressão sobre as
emissões de seguro-desemprego.
As consultorias de recursos
humanos identificaram o congelamento de vagas como uma estratégia das empresas
nesse momento de crise. Uma pesquisa da consultoria ManpowerGroup Brasil
mostrou que apenas 9% dos empregadores, em um universo de 850 executivos de
recursos humanos no país, pretendiam fazer contratações no último trimestre
deste ano, enquanto 65% declararam que manteriam estável seu quadro de pessoal.
Para os economistas, apesar da
perspectiva de aumento da taxa de desemprego – no país todo já são 8,8 milhões
de desocupados -, as despesas com o seguro tendem a diminuir ainda mais porque
a redução do emprego com carteira assinada diminui o total de trabalhadores que
podem ter acesso ao benefício.
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