Além do abandono a que tem relegado as vítimas das últimas tragédias
da Região Serrana, o Governo do Estado do Rio de Janeiro terá que se
explicar ao Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) por
suspeitas de irregularidades em contratos da Secretaria Estadual de
Obras para realização de obras contras as enchentes.
Entre os problemas, a realização de sucessivas dispensas emergenciais
para a execução dos projetos muitas delas inexequíveis no prazo de 180
dias, máximo previsto em lei, bem como atrasos nas obras de contenção
de encostas e constantes reformulações de contratos e projetos. Os
conselheiros querem ainda que o governo estadual explique se as obras
que tiveram dispensa de licitação já foram concluídas, bem como que
esclareça outras suspeitas encontradas na análise.
Um dos problemas que geraram questionamentos ao Governo do Estado foi
a utilização indevida de um pregão para a compra de 694 unidades
habitacionais modulares em Teresópolis, Sumidouro, Bom Jardim e São José
do Vale do Rio Preto, no valor de R$ 39,5 milhões. Segundo o TCE, o
procedimento fere a legislação que trata dessa modalidade de compra.
O relatório cita uma notícia publicada no Diário Oficial em 2012,
dizendo que 550 casas seriam entregues até o fim daquele ano. Em 30 de
setembro do ano passado, porém, segundo o TCE, somente metade das
despesas das obras de infraestrutura necessárias para o conjunto
habitacional havia sido liquidada.
A inércia e a omissão das autoridades no socorro às vítimas, bem como
a ausência de soluções visando preparar a região para outros temporais,
não ficaram sem resposta por parte de lideranças políticas e
representantes da sociedade civil. “Para quem não sabe na época da
tragédia da Região Serrana, em 2011, o vice-governador Luiz Fernando
Pezão (PMDB) também acumulava a Secretaria Estadual de Obras. Um dos
questionamentos que Pezão terá que responder é por que o Governo do
Estado tendo uma Secretaria de Habitação, na época ocupada pelo deputado
Leonardo Picciani (PMDB), a verba para a construção de casas foi
passada para a Secretaria de Obras, que fez uma série de contratos
irregulares, de acordo com o TCE, ignorando completamente a legislação e
os prazos. Só uma coisa é certa: até hoje nenhuma casa foi construída”,
denuncia o deputado federal Anthony Garotinho (PR).
Enquanto o governador Sérgio Cabral se distancia dos problemas em
viagens. O vice-governador e
secretários estaduais do Rio, por terem se envolvido diretamente em
ações durante as tragédias na serra, já respondem a 120 ações judiciais,
muitas com acusações de omissão.
Sobre as cobranças do TCE-RJ, a Secretaria Estadual de Obras informou
que não recebeu os questionamentos do TCE-RJ. Sobre as obras e serviços
contratados por meio de dispensa de licitação, o órgão alegou que todas
tinham como objetivo salvar vidas. E que o não cumprimento do prazo de
180 dias para a execução das obras foi chancelado pelo próprio tribunal.
Disse ainda que só com o desenvolvimento dos serviços e a prospecção
das áreas detectou-se que a extensão do acidente foi maior do que a
considerada inicialmente. E que, por isso, foram necessárias novas
contratações.
Em meio ao drama dos desabrigados e os que perderam seus entes
queridos, já houve também uma disputa para saber quem fica com o espólio
da tragédia na comédia de erros. Em 2011, Pezão e o secretário estadual
do Ambiente, Carlos Minc, trocaram farpas. O vice-governador e o então
secretário de Obras, Hudson Braga, chegaram a afirmar que as 73 pontes
que deveriam ter sido reconstruídas na Região Serrana não foram feitas
devido a obstáculos impostos pelo Instituto Estadual do Ambiente. Minc
rebateu as acusações, afirmando que os projetos apresentados pelo
governo do Estado continham erros e por isso pediu que o trabalho fosse
revisto antes da execução das obras.
Pezão se desculpa e culpa a burocracia e a legislação federal sobre
obras de emergência, considerada por ele como entrave para o andamento
de obras de recuperação na Região Serrana.
Ele também revelou nas enchentes de 2010 que o estado contou com a
ajuda financeira do Governo Federal, de R$ 1 bilhão para a reconstrução
das cidades serranas, mas que as dificuldades para a reconstrução é
muito grande. Pezão admitiu que os recursos que a presidente Dilma
mandou, até agora, são suficientes e que o Estado ainda não conseguiu
gastar tudo, pois, segundo ele, está amarrado à legislação.

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