Uma cidade viciada em royalties, eleitores sempre à espera de um salvador da pátria e políticos messiânicos, prometendo uma máquina para voltar no tempo que já passou
A inauguração do Guarus Plaza Shopping na manhã de quinta-feira (21/11/2019), na região de Guarus, em Campos dos Goytacazes (RJ), era para ser uma festa.
Uma banda de música tocando o hino do Flamengo sob a vibração de torcedores (o time carioca disputa a final da Libertadores da América), dava o tom festivo do empreendimento do empresário Joilson Barcellos, enquanto o governador Wilson Witzel, o prefeito da cidade, Rafael Diniz, e três deputados, Bruno Dauaire (PSC), Gil Vianna (PSL) e Wladimir Garotinho, que participavam da cerimônia davam o tom político.
Filho dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, Wladimir é pré-candidato à sucessão municipal. Isso, talvez, é parte do contexto de um protesto que viralizou no ambiente e ganhou mais destaque do que própria festa de inauguração.
ENTENDA O CASO
O Guarus Plaza é um marco comercial, porque é o primeiro empreendimento deste porte em Guarus, a região que concentra a maior massa de consumo do município de 500 mil habitantes, mas que enfrenta um preconceito histórico, que vem da época da colonização portuguesa, quando a região foi estigmatizada em função das disputas entre companhia religiosas, indígenas e posteriormente escravos refugiados em quilombos.
Barcellos descobriu o nicho de negócios que existe do outro do lado do Paraíba do Sul, rio que corta cidade. A filial de sua rede se supermercados, o Superbom, que funciona no Shopping, já é a segunda loja em vendas em toda a sua cadeia de varejos.
Próximo ao Shopping inaugurado, está localizado o Hospital Geral de Guarus (HGG), uma unidade de saúde que enfrenta problemas estruturais desde o governo Rosinha Garotinho, que antecedeu a gestão de Diniz.
Os problemas nos últimos anos, no entanto, se agravaram, principalmente diante das últimas chuvas, o que levou o município a interditar alguns setores.
Foi neste ambiente que o prefeito chegou para participar de uma cerimônia de inauguração, que contava com a presença de moradores locais e partidários do seu adversário, Wladimir Garotinho.
O clima adverso para o prefeito ficou evidente logo que apareceu sua imagem no telão e plateia começou a gritar “HGG”, em tom de cobrança. As vaias começaram com partidários de Wladimir Garotinho e ganharam adesão ambiental, com forte repercussão posteriormente nas redes sociais e grupos de Whatsapp.
EQUIPE DE GOVERNO FALHOU
Rafael Diniz ficou em situação de extrema vulnerabilidade diante de uma plateia adversa, porque sua equipe de comunicação não teve o cuidado de avaliar o terreno antes de sua chegada.
O prefeito, no mínimo, deveria ser avisado que se tratava de uma cerimônia aberta ao público em geral, e não apenas uma cerimônia com convidados.
A cerimonialista da inauguração, que poderia exercer o controle sobre a plateia, também se mostrou inábil, porque não conseguiu evitar que a festa derivasse para um protesto contra uma autoridade convidada para o evento.
O governador Wilson Witzel, um demagogo despudorado, ainda aproveitou a deixa para encenar um espetáculo bufo. Criticou as condições do HGG e prometeu liberar R$ 5 milhões para o Hospital. Resta saber se esse dinheiro vai realmente chegar.
Witzel não se importa em pagar mico. Já fez isso em outras vezes, quando tocou corneta, desceu de um helicóptero comemorando a morte de um rapaz com problemas mentais que sequestrou um ônibus na ponte Rio-Niterói e pilotou um helicóptero de onde policiais disparavam tiros contra uma favela.
CIDADE VICIADA EM ROYALTIES
Rafael Diniz, cujo o governo enfrenta um desgaste incontestável em face das condições financeiras que atinge as cidades da zona produtora de petróleo da Bacia de Campos, ao chegar para a inauguração, entrou em uma zona cinzenta, mas ainda assim, enfrentou a situação.
Discursou mesmo diante de vaias, ainda que não conseguisse ser ouvido por uma turba barulhenta.
Um dos grandes problemas do governo Rafael Diniz continua sendo parte de sua equipe, principalmente um núcleo que acredita ser possível contornar sentimentos e conter as ruas por meio de postagens em redes sociais.
Há também problemas financeiros crônicos. Rafael Diniz governa uma cidade com perdas financeiras sem precedentes, enquanto tem um custeio infinitamente maior do que o município detinha na era do ouro negro. É destemido nas tomadas de decisões, mesmo as que atingem a popularidade. É, portanto, um governante que não se deixa seduzir por elogios em troca de aventuras com dinheiro público.
Mas no campo da realidade, é um desatino comparar Campos de 2016 a 2020, com cotação de petróleo em baixa, queda de produção na Bacia de Campos (que já respondeu por 80% da produção nacional e perdeu protagonismo para o pré-sal), com a Campos dos Goytacazes sob cotação do barril do petróleo em U$S 113 e a economia mundial bombando.
A Campos dos Goytacazes na gestão nos tempos atuais é uma cidade sem dinheiro, muita segmentos da sociedade querendo se apossar do orçamento.
Existe ainda a vocação para a crença em salvadores da pátria e a classe política brasileira tem vocação messiânica. Os opositores do governo prometem o paraíso terrestre, mas é bom que não se cultive ilusões.
Com Rafael Diniz ou sem Rafael Diniz, esta cidade do Norte Fluminense, nem tão cedo voltará a ter dinheiro para erguer elefantes brancos. Os royalties que já estão minguados poderiam diminuir ainda mais, caso o Supremo Tribunal Federal (STF), em abril do ano que vem, decida por validar a lei que redistribui esta compensação para todos os Estados e Municípios.
EMPRESAS, PATROCINADORES, COLABORADORES E EMPRESÁRIOS QUE APOIAM O GRUPO K.J. DE COMUNICAÇÃO:
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